Como a Mata Atlântica tem colaborado com a mitigação das mudanças climáticas por meio do mercado de carbono
As mudanças climáticas são o maior desafio ambiental que a humanidade enfrenta no século XXI. Seus impactos ameaçam desfazer décadas de trabalho de conservação e estão alterando fundamentalmente o nosso futuro. Por isso, uma de nossas principais abordagens é a implementação de estratégias que utilizam os próprios processos e recursos naturais para enfrentar desafios ambientais, sociais e econômicos, o que chamamos de Soluções Baseadas na Natureza. Elas buscam proteger, gerenciar e restaurar ecossistemas de forma sustentável, aproveitando os benefícios que a natureza pode oferecer e podem fornecer até 37% das reduções de emissões necessárias para manter o clima dentro de limites seguros até 2030.
Em todo o mundo, vastas áreas de florestas temperadas e tropicais foram desmatadas para atividades humanas. No entanto, muitas dessas áreas são boas candidatas para a restauração, com a recuperação da vegetação nativa e o plantio de árvores. No Brasil, a Mata Atlântica oferece excelentes oportunidades para enfrentar as mudanças climáticas por meio da restauração. Apesar de seu estado reduzido (menos de 20% da Mata Atlântica permanece em fragmentos isolados), esses últimos remanescentes abrigam uma rica biodiversidade, incluindo 8% das plantas do mundo, 5% dos vertebrados da Terra, sendo quase 200 espécies de aves encontradas apenas aqui - e 60% das espécies animais ameaçadas do Brasil.
O mercado de carbono é uma das diferentes fontes de recursos possíveis para impulsionar a restauração florestal em larga escala. Mas também é possível alavancar investimentos adicionais para a implementação da restauração e apoiar a sua manutenção a longo prazo a partir do seu potencial de geração de empregos e renda, já que a restauração é um processo complexo que envolve diversos recursos.
Os esforços de restauração exigem pessoas qualificadas para preparar o solo, plantar e monitorar as áreas, garantindo que as florestas cresçam e prosperem. É necessária uma cerca adequada para proteger a área, além de sementes e mudas que formarão a floresta. Além disso, o sucesso desses esforços depende do monitoramento do processo de restauração e do sequestro de carbono, bem como do compromisso de proprietários de terras dispostos a dedicar parte de suas propriedades à restauração.
A parceria entre a TNC e o Mercado Livre, por meio do programa Regenera América, tem possibilitado a restauração de quase 3.000 hectares de árvores na região da Mantiqueira (área na Mata Atlântica que abrange 20 milhões de hectares em 604 municípios e três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo cerca de um milhão de hectares de áreas degradadas que poderiam ser usadas para restaurar florestas), contribuindo para a recuperação e conservação da Mata Atlântica e para o combate às mudanças climáticas. Iniciamos em 2021 uma jornada que trará diversos benefícios ao longo dos próximos anos, incluindo a ampliação da restauração florestal no bioma, a orientação de novos projetos e o fortalecimento do mercado voluntário de carbono no Brasil. Por meio de pagamentos pelos serviços ambientais à proprietários rurais que desejam restaurar suas propriedades, é possível promover equidade, recuperação ambiental e expansão da biodiversidade de forma eficaz. Até o fim de 2024, já foi destinado R$1,3 milhão para pagamentos de serviços ambientais para mais de 150 proprietários, e movimentou, com a compras de insumos e serviços, cerca de R$10 milhões em economias locais.
Iniciamos uma jornada que trouxe muitas lições valiosas até agora: como valorizar a futura floresta e envolver os proprietários, o custo-efetivo da implementação de projetos de restauração de carbono, as estratégias corretas de restauração e o que é importante para um mercado de carbono de alta integridade.
Estamos trabalhando com diversas organizações locais para desenvolver a capacidade de participação nesse mercado de carbono de alta integridade. Promovemos capacitações, workshops sobre mercados de carbono, projetos de originação e certificação de carbono, além de apoiar essas organizações na construção de seus próprios projetos de carbono. Dessa forma, podemos ampliar a restauração da Mata Atlântica, valorizando a floresta e os agricultores que a restauram e protegem.
Mais do que apenas o produto de um trabalho de restauração baseado na ciência, da colaboração, da mobilização e da busca pela inovação, estes resultados marcam o início de um futuro mais próspero, que valoriza as florestas, melhora a qualidade de vida das comunidades rurais e contribui para um planeta saudável.