As mudanças climáticas estão, de fato, tornando mais difícil manter a saúde e a segurança no mundo. Mas isso não é irremediável e não estamos desamparados.
As mudanças climáticas são um problema mundial e geram o que a cientista-chefe da The Nature Conservancy, Katharine Hayhoe, considera o mito mais perigoso.
Segundo Hayhoe, esse mito é achar que “nada disso nos afeta, que são problemas distantes que dizem respeito somente às gerações futuras e lugares longínquos”.
Efeitos globais e locais das mudanças climáticas
verdade é que estamos sentindo os efeitos desse aquecimento acelerado aqui e agora:
- Quando compramos comida: os preços dos alimentos estão subindo devido a mudanças nas práticas e locais de produção.
- Quando viajamos: temporadas mais longas de furacões e incêndios florestais e temporadas mais curtas de neve atrapalham as viagens e prejudicam as economias que dependem do turismo.
- Quando faltamos à escola ou ao trabalho devido a ondas de calor extremas, inundações e poluição do ar.
Mas a principal razão para se preocupar imediatamente com as mudanças climáticas não são os novos problemas que vêm surgindo, mas os velhos problemas que vêm piorando.
Quote: Katherine Hayhoe
Estas são algumas das ameaças mundiais à saúde e à segurança que as mudanças climáticas estão tornando mais complexas:
1. As mudanças climáticas agravam a desigualdade social e econômica
O mundo já é desigual, e o poder disruptivo das mudanças climáticas o torna ainda mais.
Grupos desfavorecidos e as populações mais pobres do mundo sofrem os piores impactos climáticos porque dispõem de menos recursos para se recuperarem de desastres e se adaptarem. As dificuldades adicionais impostas às pessoas mais vulneráveis ao lidarem com as mudanças climáticas – relacionadas a dinheiro, tempo e estresse – perpetua o ciclo de desigualdade.
Injustamente, as pessoas mais vulneráveis são também as que menos emitiram gases retentores de calor, principal causa do problema.
Quando olhamos para a desigualdade entre países, vemos padrões semelhantes. Embora a diferença de riqueza entre os países esteja melhorando nos últimos 25 anos, a mudança climática vem freando esse progresso e pode acabar revertendo-o.
Uma das principais consequências dessa desigualdade está relacionada ao aumento das temperaturas e à agricultura. Os países mais ricos geralmente têm climas mais frios do que os mais pobres. À medida que as temperaturas sobem em todos os lugares, os países mais quentes enfrentam mais problemas para cultivar os produtos essenciais para suas economias, enquanto os países mais frios tornam-se capazes de produzir uma variedade maior de alimentos.
2. As mudanças climáticas aceleram a perda de biodiversidade
Animais e plantas tentam se adaptar ao estresse dos efeitos perturbadores das mudanças climáticas na temperatura e umidade.
Enquanto algumas espécies mudam suas áreas de distribuição, espalhando-se por retalhos de habitats, outras são impedidas de avançar pelo desenvolvimento de fazendas e áreas urbanas. Nesse processo, algumas espécies que evoluíram dentro de certos ecossistemas são extintas e substituídas por espécies generalistas. Na terra e no mar, as taxas de perda e extinção da biodiversidade vêm se acelerando.
Perda de empregos
O aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e tempestades extremas mais frequentes atingiram os criadouros de mariscos, levando à perda de empregos na indústria de frutos do mar.
As pessoas que dependem dessas espécies também passam por dificuldades. Pescadores de todo o mundo estão pegando menos peixes à medida que os cardumes se deslocam para águas mais frias. Algumas dessas espécies são icônicas – como o bacalhau do Atlântico em Cape Cod, Massachusetts. Os pescadores dessas águas são obrigados se adaptar se quiserem manter seus meios de subsistência, o que significa pescar novas espécies.
E o que dizer sobre a população local que quiser comprar bacalhau do Atlântico? Pois, deverão pagar mais para importá-lo das regiões do norte.
3. As mudanças climáticas aumentam a violência de gênero
Todos os tipos de crises – incluindo pandemias mundiais – aumentam a violência de gênero. Países de todo o mundo registram picos de violência doméstica após desastres naturais. E as mudanças climáticas fazem com que esses desastres sejam mais frequentes e graves.
Os desastres climáticos, como furacões e secas, podem amplificar os fatores de risco para a violência de gênero e doméstica. Esses eventos perturbadores podem desestabilizar as finanças, limitar o acesso a alimentos e água e forçar as pessoas a se reassentarem. O estresse gerado por essas crises pode levar à violência e intensificar as vulnerabilidades existentes, como o isolamento, a desigualdade de gênero e a sobrecarga das redes de serviços e apoio.
Ponto de inflexão
As taxas de violência doméstica e de gênero podem permanecer altas por anos após os desastres, como no caso do furacão Katrina.
A frequência cada vez maior de desastres climáticos apresenta um perigoso efeito dominó. Com pouco tempo para as comunidades se recuperarem, crises climáticas consecutivas podem resultar em refugiados climáticos (pessoas que são permanentemente deslocadas devido a desastres). Mulheres, crianças e outros grupos vulneráveis deslocados correm maior risco de violência.
Quase um milhão de pessoas nos Estados Unidos foram deslocadas por um desastre em 2019, tornando-se um dos principais países em termos de deslocamento climático. O exemplo mais recente foi a potente tempestade de inverno no Texas. Após vários furacões e uma pandemia, esse foi um "ponto de inflexão" letal no que diz respeito à violência de gênero.
4. As mudanças climáticas aumentam o número de carrapatos e as doenças que eles transmitem
As mudanças climáticas são, infelizmente, ótimas para os carrapatos. Hoje em dia, o clima mais quente começa mais cedo no ano e dura mais, permitindo que os carrapatos sobrevivam a invernos mais curtos e menos frios. O aumento das temperaturas também lhes permite se mover a áreas onde antes não conseguiam sobreviver.
Síndrome alfa-gal
Esta é uma doença transmitida por carrapatos que causa uma reação alérgica à carne vermelha em pessoas picadas pelo inseto.
As doenças transmitidas por carrapatos também estão se propagando. O índice de doença de Lyme, transmitida principalmente por carrapatos, dobrou nos Estados Unidos. Os carrapatos que se mudaram recentemente para novas áreas trazem consigo novas doenças, aumentando as infecções. Essas infecções podem ser mais difíceis de diagnosticar. Algumas dessas novas doenças, como a anaplasmose e o vírus Powassan, podem ser fatais se não forem detectadas imediatamente.
Muitas pessoas não estão acostumadas com tantos carrapatos – ou nunca viram um – e não tomam as precauções necessárias ao estarem em ambientes a céu aberto. Os carrapatos são pequenos o suficiente para que a maioria das pessoas nem perceba que foi picada, o que pode atrasar ainda mais o diagnóstico das doenças transmitidas.
As boas notícias: temos o poder de mudar o futuro
As mudanças climáticas estão de fato tornando muitos problemas ainda piores, mas isso não é irremediável e não estamos desamparados. Neste momento, a ação mais eficaz que qualquer um pode fazer é falar sobre o problema.
Se você não tiver certeza de como esse tema será recebido, comece simplesmente se aproximando das pessoas.
Ao trazer o assunto à tona nas conversas, você estará mostrando que as mudanças climáticas são importantes. Dessa forma você também normalizará o assunto entre seus amigos e familiares, para que eles também possam discuti-lo em suas próprias interações.
Podemos e devemos resolver este problema urgente
Fale com seus representantes eleitos sobre os assuntos que lhe interessam.