Conservando a biodiversidade com participação da comunidade no Rio de Janeiro
Projeto "Aves de Lídice" trouxe a fauna de volta para distrito no interior do estado.
O trabalho para proteger e restaurar nascentes e matas ciliares está transformando a vida de comunidades tradicionais em Lídice, um distrito na cidade de Rio Claro-RJ. A região é marcada historicamente pela degradação da vegetação nativa, primeiro para produção de café, pecuária e horticultura nos séculos XVIII e XIX, impulsionados pela construção de ferrovias, e depois pela industrialização e produção de carvão vegetal. No distrito está localizada a Comunidade Quilombola do Alto da Serra do Mar, criada por descendentes de trabalhadores escravizados em fazendas de café na região do Médio Paraíba. Essa população presenciou a expansão da produção agrícola avançar sobre a floresta nativa da Mata Atlântica por séculos, ameaçando a biodiversidade.
Desde 2008, a The Nature Conservancy (TNC) tem trabalhado na região com o programa Produtores de Água e Floresta (PAF), apoiando a conservação e restauração de florestas em áreas prioritárias para aumentar a qualidade e quantidade de água na Bacia do Guandu, responsável pelo abastecimento de 80% da região metropolitana do Rio de Janeiro. A iniciativa é fruto de uma parceria com o Estado do Rio de Janeiro, Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Guandu, Prefeitura de Rio Claro-RJ e atualmente com apoio da Ambev, além da participação ativa da comunidade quilombola do Alto da Serra do Mar. O projeto é o único da região que envolve o trabalho de monitoramento da biodiversidade, que em 2018 documentou a presença de 63 diferentes espécies de aves na região, um aumento de 91% na quantidade de espécies desde o monitoramento realizado em 2013, o que é um indicador importante de sucesso no trabalho de conservação, já que a quantidade de aves e diferentes espécies está relacionada a preservação de seus habitats naturais em um ecossistema.
Mas o trabalho na restauração da bacia não trouxe apenas benefícios ambientais, os bons resultados ajudam a fortalecer o ecoturismo na região. Com o retorno da fauna, contando também com a participação da PCH Braço e Sindicato Rural de Rio Claro, a iniciativa “Aves de Lídice” realizou uma pesquisa em campo para identificação das espécies de pássaros que voltaram a região com o aumento da cobertura florestal, além de capacitar a comunidade local para trabalhar na área como condutores de observação de aves. Além de gerar renda para que os integrantes da comunidade possam melhorar sua qualidade de vida, o trabalho reforça a conexão dos habitantes de Lídice com a natureza da região.
Por meio da parceria, foi desenvolvido um livro indicando as espécies de aves que podem ser encontradas na região, com base nas expedições realizadas por especialistas. Com o trabalho, a ideia é que Lídice entre na rota de turismo de observadores de aves que visitam o Rio de Janeiro, um dos principais estados do país para observação de aves, onde é possível avistar quase um terço das espécies do Brasil. A expectativa é que o aumento de turistas movimente a economia local, aumentando a renda não só da comunidade quilombola e produtores rurais, mas também de toda a cadeia de turismo da região como, por exemplo, os setores de serviço e comércio.
O PAF é uma iniciativa apoiada pela Coalizão Cidades pela Água e pela Aliança Latino-americana dos Fundos de Água, e é um dos projetos que ajuda a comprovar como a conservação da natureza pode ser um bom negócio para todos. Com o objetivo de aumentar a segurança hídrica em uma das principais metrópoles do Brasil, os benefícios já são visíveis não só para a população das grandes cidades, mas também para comunidades do entorno. Assim, a comunidade que contribui para o abastecimento de água para mais de 8 milhões de habitantes do Rio de Janeiro pode também usufruir e colher benefícios do patrimônio natural que ela ajuda a preservar.
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Guia de Aves de Lídice
Capa de identificação de espécies desenvolvido com apoio da TNC para documentar aves que vivem na região de Lídice, distrito de Rio Claro-RJ. Veja