Decidir onde expandir a produção de alimentos, com o melhor custo-benefício para produzir, e ainda manter a floresta em pé e os ambientes naturais intactos, é um desafio para produtores e empresas do setor agropecuário. A plataforma Agroideal, que agrega dois sistemas online, abertos e gratuitos, visa auxiliar os elos do setor de soja e pecuária responsáveis por sua comercialização a pensar no planejamento futuro do negócio e investimento considerando os compromissos socioambientais que possuem. Mas o sistema vai além disso e também permite mapear dados econômicos, sociais e ambientais para investimentos sustentáveis, sem converter a vegetação nativa, contribuindo para os compromissos de desmatamento zero, redução das emissões de gases do efeito estufa e reaproveitamento de área degradas. A versão recentemente atualizada da ferramenta oferece informações sobre o Cerrado e Amazônia brasileira, além de identificar oportunidades, riscos sociais e ambientais para auxiliar a tomada de decisão para expansão responsável da produção em áreas já alteradas nesses biomas.
Para construir a ferramenta, a The Nature Conservancy (TNC) criou uma coalizão com algumas das principais traders mundiais de soja, Bunge, ADM, Cargill, COFCO, Dreifus e Amaggi, além de dois grandes frigoríficos, Marfrig e Minerva. Também participaram instituições financeiras, de pesquisa e associações como a ABIOVE, Agrosatélite, Embrapa, Rabobank, LAPIG, Agroícone, WWF, NWF, IDH e Earth Innovation. Esse esforço coletivo, iniciado em 2016, contou também com o apoio de outras instituições que, somando quase uma centena de especialistas, ajudaram a definir os requisitos e indicadores principais do sistema, gerando um ambiente de discussão sobre riscos e oportunidades sociais, ambientais e econômicas para os setores da soja e carne. O desenvolvimento da plataforma contou com o investimento da Gordon e Betty Moore Foundation na Colaboração Floresta e Agricultura (CFA) e da Bunge.
O Agroideal inova ao trazer dados úteis para a tomada de decisão para todos os elos da cadeia associada ao agronegócio, seja de forma direta, como traders, bancos, produtores e varejistas, ou indiretamente, com as instituições de pesquisa, consultorias e governos. Além de dados básicos, a plataforma apresenta indicadores inéditos para o Cerrado brasileiro, que sofre grande pressão de uso da terra. Localizado na parte central do país, o bioma cobre uma região de aproximadamente 25% da área total brasileira. Com mais de dez mil espécies de plantas – 45% delas exclusivas da região – o Cerrado é a savana mais rica do mundo.
“O Agroideal coloca as informações na ponta dos dedos dos tomadores de decisão. O desafio do Cerrado não é novidade, mas com as informações do sistema é possível fazer um planejamento sustentável para as práticas do setor. É crucial em uma região como essa, com áreas desmatadas e habitats naturais, ter a ferramenta como uma fonte confiável para apontar onde plantar e quais áreas evitar”, afirma David Cleary, Diretor de Agricultura da The Nature Conservancy.
O Agroideal foca nas fronteiras agrícolas e nas áreas de expansão da produção de soja e pecuária, por isso o sistema hoje já contém dados da Amazônia Brasileira, onde a produção pecuária e de grãos está em alto desenvolvimento, e do Chaco, bioma com forte produção de gado que envolve o Paraguai e Argentina. O sistema permite que os usuários tenham acesso aos riscos e oportunidades do desenvolvimento, permitindo produzir de forma inteligente em áreas já abertas com alto potencial produtivo.
Quote: David Cleary
Estudos recentes destacam que mais de 750 000 km² ou 18% da Amazônia e 825.000 km² ou 41% do Cerrado foram devastados. Desde 2011, estima-se que o Cerrado perde uma área maior que o tamanho da cidade de Londres a cada ano, e a Amazônia, de 2015 a 2016, aumentou em 29% a devastação em seu território – uma área que é o dobro do tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
“O Cerrado é, provavelmente, a última fronteira agrícola do Brasil. Desmatamento, expansão agrícola e queimadas têm destruído uma extensa área deste bioma e a demanda por soja está exercendo uma pressão enorme na região. O Agroideal ajuda o setor a atender a essa demanda aproveitando as áreas já abertas e respeitando os compromissos socioambientais já assumidos pela empresa”, afirma Flávia Pinto, Coordenadora do Agroideal, da The Nature Conservancy Brasil. A partir da seleção de indicadores de oportunidade econômica e riscos socioambientais, o sistema gera um mapa de exposição ao risco em relação ao potencial de expansão sobre áreas já abertas, permitindo a personalização de inúmeras estratégias de negócio com as ferramentas existentes. Assim, é possível incorporar essas informações em uma estratégia de desenvolvimento sustentável, reduzindo o desmatamento de áreas naturais e os impactos sociais e ambientais do setor.