Florestas e água sempre juntas
Por Claudio Klemz - Especialista em Políticas Públicas para Água da TNC Brasil
Por iniciativa da Organização das Nações Unidas, diversos “dias internacionais” são celebrados ao longo do ano como motes para a reflexão e o debate sobre temas sensíveis à sociedade. No mês de março, celebramos o Dia Internacional das Florestas (21) e o Dia Mundial da Água (22). Por isso é muito oportuno pensar sobre a relação entre os dois temas.
Um delicado balanço existe entre estes dois elementos. No semiárido brasileiro, as condições básicas de vida das pessoas dependem essencialmente da água subterrânea e de rios intermitentes. Não é incomum nestas regiões, encontrar cidades fantasma. Escolas, igrejas, praças, casas, tudo vazio. Se não há água as pessoas migram, simples assim. Por outro lado, os noticiários recentemente mostraram a situação contrária. Quando o solo fica encharcado demais e sem florestas para fortalecer sua estrutura, perde sustentação e desliza. Perdas humanas e econômicas são os resultados.
O que geralmente vemos na sequência são soluções paliativas, a visita do político de plantão oferecendo promessas vagas baseadas em orçamentos que não existem, pois nunca foram planejados... uma história infame que se repete ad nauseum em diversas regiões do país.
Na essência, água e florestas são intrinsecamente relacionados. O destaque desta narrativa é sobre a inter-relação entre a água e as florestas nos sistemas onde coexistem elementos humanos e naturais.
Conforme a Política Nacional de Recursos Hídricos, a bacia hidrográfica é a unidade territorial básica de planejamento. Tal delimitação espacial é útil e prática para o processo político pois, na maioria das situações, a bacia hidrográfica encapsula uma fração comum de características geológicas, bióticas, hidrológicas, bem como dos sistemas humanos com suas demandas e impactos.
Dentro dos limites de uma bacia hidrográfica, é menos complexo compreender, modelar, planejar e monitorar a relação entre os elementos naturais. Dois conceitos emergem nesse ponto, o planejamento territorial e o planejamento da paisagem, que não são sinônimos. O planejamento da paisagem implica na compreensão multidisciplinar de processos ecológicos humanos e é baseada em conhecimento científico. Já o planejamento territorial, embora tenha a mesma base técnica, tem uma conotação mais executiva – vira Plano de Bacia, Plano Diretor, tem orçamento, precisa de equipes para ser implantado, fiscalizado e, no momento oportuno, revisado.
Quote
Estes dois conceitos se encontram, por exemplo, quando precisamos definir onde é importante que florestas sejam protegidas, restauradas e incentivadas para que se alcance o máximo benefício ecológico, econômico e social. Vale lembrar que, florestas, além de amenizar temperaturas, sequestrar carbono e lançar milhões de litros de água na atmosfera, regulando as chuvas, têm também, entre seus papéis, o de interceptar a chuva em suas folhas, acolhendo a água que cai e amortecendo sua força. Ao escorrer lentamente por galhos e caules, a água chega ao solo. Raízes fortes e implacáveis abrem canais no solo pelos quais a água segue fluindo e se infiltrando, ao invés de escorrer pela superfície, protegida por uma massa de folhas caídas e matéria orgânica e flui lentamente, sem pressa, alimentado uma cadeia de vida pelo caminho. Flui tão lenta e preguiçosamente que, ao cessarem as chuvas e prevalecer a estiagem, este volume de água invisível passa a alimentar riachos, rios e reservatórios.
Na paisagem, cada tipo de floresta, seja ela nativa ou plantada, primária ou em regeneração, multifuncional ou industrial, têm uma importante função para o nosso bem-estar e prosperidade. Assim, cabe refletir, conversar, debater – com serenidade e embasamento – que tipo de paisagem (bacia hidrográfica, país ou mundo) queremos ter ao nosso dispor no futuro próximo ou no futuro que deixamos para o próximo.