A floresta em pé traz ganhos financeiros, e quem diz isso é a ciência.
Estudo destaca que o aumento de temperatura em áreas desmatadas no Cerrado afeta a produtividade em seu entorno.
Por Anna Lucia Horta - Gerente de Negócios e Investimentos da TNC Brasil
Mesmo com tantos avanços no campo, ainda hoje, acredita-se que a conservação ambiental é inimiga do lucro. Mas essa mentalidade está com os dias contados. Um estudo publicado recentemente pela prestigiada revista World Development traz evidências científicas contundentes dos benefícios da preservação do Cerrado e Amazônia para a produção de soja. Isso ocorre porque essas vegetações nativas contribuem substancialmente para a regulação da temperatura, uma condição essencial para a produtividade.
E quem optou pelo desmatamento para implementação das lavouras de soja agora já pode saber o tamanho do prejuízo causado por essa escolha. Segundo os cálculos da pesquisa, a prática gerou uma perda anual média de US$ 1.3 bilhão entre os anos de 1985 e 2012. E considerando as previsões das mudanças climáticas, devemos ter perdas ainda mais significativas, chegando a US$ 4 bilhões por ano até 2050. Os números deixam claro que quem não quiser amargar esse prejuízo vai precisar produzir sem desmatar.
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Para se ter uma ideia de como a relação de causa e efeito é muito imediata, retirar 30% da vegetação, nativa num raio de 50 km de área de cultivo de soja causa uma queda de até 14% na produtividade por conta do calor extremo. Além disso, o desmatamento aumenta a frequência de horas e dias extremamente quentes num raio de até 50 km. Ou seja, desmatar, além de contribuir para o aquecimento global, causa o aquecimento local. O próprio produtor é quem perde.
Então, para quem dizia até agora que precisava desmatar para ter melhores resultados, a ciência mostra que estava enganado. Como vimos, a floresta em pé não é apenas questão de consciência ambiental, é uma necessidade financeira.
Não poderia deixar de parabenizar os pesquisadores responsáveis pela pesquisa que consultei para trazer todos os dados apresentados neste texto, expressando o orgulho pela participação de instituições brasileiras como a Universidade Federal de Viçosa. Nós da The Nature Conservancy apreciamos toda essa dedicação porque acreditamos que as ações pelo meio ambiente e economia precisam sempre de base científica. Por isso mesmo, faço questão de mencioná-los nominalmente: Rafaela Flach (Tufts University); Gabriel Abrahão (Universidade Federal de Viçosa); Benjamin Bryant (Consultor independente) Marluce Scarabello (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Aline C. Soterroni (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais / Instituto Internacional de Análise Aplicada de Sistemas); Fernando M. Ramos (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais); Hugo Valin (Instituto Internacional de Análise Aplicada de Sistemas); Michael Obersteiner (Instituto Internacional de Análise Aplicada de Sistemas / Instituto de Mudança Ambiental); Avery S. Cohn (Tufts University).