Imagem aérea de helicópteros de combate a incêndio
Serviços de combate a incêndio Nossos Salvadores // Em Tenerife, no dia 16 de agosto de 2023, foi declarado o maior incêndio da Espanha. Durante dias vimos as montanhas arderem atrás das nossas casas. Esta © Luisa Lynch Harris/Concurso de Fotos TNC 2023

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COP28: Para enfrentar a emergência climática, todos precisam agir

Por Frineia Rezende, diretora executiva da The Nature Conservancy (TNC) Brasil

O planeta está mais quente e as pessoas enfrentam impactos sem precedentes ao redor do mundo: recordes de incêndios florestais, enchentes catastróficas e ondas de calor insuportáveis. Com o El Niño intensificado pelas mudanças climáticas, estamos vivendo a cada período um novo recorde de temperatura, secas e precipitações em diversas regiões do Brasil, com pouco ou quase nenhum preparo de enfrentamento aos eventos, colocando em risco a vida de milhões de pessoas.

Diante desse cenário, a partir de 30 de novembro, representantes de quase 200 países se reunirão para coordenar ações globais climáticas no âmbito da COP28, ou 28ª Conferência do Clima da ONU. A COP28 é um momento crucial de tomada de decisões, não apenas pelo cenário climático emergencial que estamos enfrentando, mas, principalmente, por não termos boas notícias dos cientistas para o futuro. 

Segundo o último relatório síntese Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças do Clima, o IPCC, temos uma janela de oportunidade única – e bem estreita – para a ação. Porém, para isso, os países devem mostrar ambição e força política para uma transição justa sem precedentes. 

O primeiro boletim de avaliação do clima no mundo (chamado de Global Stocktake) mostrou o quanto estamos atrasados em nossas ambições climáticas. Precisamos de ações drásticas que beneficiem o clima e precisamos delas agora.

Portanto, a COP28 será um passo crucial na construção de uma jornada que vem desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015, quando, num feito diplomático, mais de 150 países se comprometeram a reduzir suas emissões e cooperarem entre si no enfrentamento da crise climática. 

A presidência desse ano, na mão dos Emirados Árabes Unidos, terá desafios importantes para nosso futuro. Entre os destaques estão: 1. acelerar a ambição dos países em suas transições energéticas para limitar o aquecimento global em 1.5°C acima dos níveis pré-industriais; 2. colocar a natureza, as pessoas e as comunidades no centro das ações climáticas, principalmente na meta global de adaptação, que deverá ser estruturada esse ano; 3. definir um arcabouço para um novo acordo de financiamento de ações climáticas que deve ser acessível e disponível aos países em desenvolvimento – já que o acordo de destinação de 100 bilhões de dólares anuais, pelos países desenvolvidos, não chegou nem perto de ser cumprido; e 4. ter, finalmente, uma estrutura de governança e operação do Fundo de Perdas e Danos, com compromisso dos países desenvolvidos em aportarem recursos destinados aos países que já estão sofrendo impactos dos eventos climáticos extremos. 

Além disso, esperamos ainda que a COP28 seja um momento inclusivo, garantindo que as decisões sejam verdadeiramente elaboradas e pensadas em colaboração com os Povos Indígenas e as Comunidades Locais. 

Com uma delegação de cerca de duas mil pessoas, incluindo a sociedade civil, o Brasil tem um papel fundamental. Reconhecido pelo seu poder diplomático e reconciliador, o país retoma o protagonismo nessa agenda já levando novas propostas. O governo chegará em Dubai com o novo Plano de Transformação Ecológica, apresentando um conjunto de ações para outros países - e pela primeira vez colocando o mercado de carbono como um dos possíveis atrativos para o investimento internacional em ações de baixo carbono. O Brasil também chega a essa COP, com a redução de 22% de desmatamento na Amazônia, no período de agosto de 2022 a julho de 2023.  

As decisões dessa Conferência marcarão a rota até a COP30, prevista para ocorrer daqui a dois anos, em Belém. Em 2025, o Acordo de Paris completará uma década e é o momento em que os países deverão entregar uma versão revisada de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (as NDCs). Se durante a COP, em Dubai, os países provarem que realmente estão dispostos a acelerarem o passo no caminho de uma transição ambiciosa e justa, saberemos que a COP30 terá parte do seu sucesso garantido e, mais importante, os efeitos extremos das mudanças climáticas serão proporcionalmente mitigados.

 

Publicado originalmente em Valor
29 de novembro de 2023
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